Vendas do comércio pressionarão Selic

13/07/2011 09:05

        Os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), confirmando em maio um crescimento de 0,6% no volume físico das vendas do comércio varejista em relação a abril, são mais um dentre os vários indicadores que devem convencer o Copom a continuar elevando a taxa de juros, segundo o economista-chefe do Banco do Brasil, Élcio Gomes Rocha. “Em geral, estamos observando que os dados, não só os de vendas, estão vindo em um ritmo mais acelerado do que prevíamos”, disse Rocha.

        Com a expansão de maio, as vendas reverteram a queda de 0,2% apurada em abril. Segundo o IBGE, as vendas do comércio varejista restrito (que exclui veículos, autopeças e material de construção) cresceram 6,2% em maio deste ano em relação a igual mês de 2010. No ano, até maio, as vendas do setor acumulam altas de 7,4% e, em 12 meses, de 9,2%. No varejo am­pliado – que inclui as atividades de veículos e motos, partes e peças e material de construção – foi registrado crescimento de 1,0% em maio ante abril e 12,8% em relação a maio do ano passado.

“Apesar de o BC ter tomado medidas para desaquecer a economia, as vendas continuam fortes em decorrência da demanda aquecida”, explicou o economista do BB. Para ele, o PIB do segundo trimestre deverá fechar próximo de 1%, o que é considerado elevado pelo BC. Por isso, ele avalia que o BC terá de agir para jogar o crescimento da economia para perto do seu potencial. “Se isso não for feito, a autoridade monetária não vai conseguir fazer com que a inflação venha para o centro da meta em 2012”, alerta Rocha.

        O economista-chefe do Banco do Brasil acrescenta ainda ao conjunto de fatores o mercado de crédito ainda aquecido e o mercado de trabalho contratante num cenário em que a taxa de desemprego é muito baixa. “Fora isso, os dissídios de categorias importantes de trabalhadores no segundo semestre deverão trazer ganhos reais expressivos para estes trabalhadores”, destaca o economista, argumentando que não está colocando neste cenário o aumento de 14% em termos nominais e de 7,5% em termos reais para o salário mínimo no ano que vem. “Não quero nem pensar nisso agora”, frisou.

Desaceleração

        A previsão do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, para o ritmo das vendas é de desaceleração para o restante do ano. Ele diz que o avanço de 0,6% das vendas em maio ante abril “não é nada extraordinário” e está dentro do previsto. “No geral, o destaque continua sendo o setor de móveis e eletrodomésticos”, destacou, para em seguida ponderar: “Isso tem a ver com a renda do trabalhador, mas tanto o emprego quanto a renda, apesar de não cederem, também não devem apresentar crescimento significativo para o resto do ano. Com isso, o consumo tende a desacelerar em relação ao ano anterior.” O segmento de móveis e eletrodomésticos teve expansão de 1,3% em maio ante o mês anterior e de 20,4% em relação a igual mês de 2010.

        Para Gonçalves, o crescimento das vendas no restante do ano será mais consistente nos setores que dependem menos do crédito, como supermercados e hipermercados. Quando se considera o varejo ampliado, os efeitos das medidas restritivas e de política monetária devem aparecer mais nitidamente. “Como o Banco Central vem dizendo, o consumo é um dos elementos de preocupação para os preços, mas boa parte desse consumo também é atendido pelas importações, o que atenua um pouco o efeito sobre a inflação”, finaliza o economista.


 

FONTE: GAZETA DO POVO