BRASIL TENTA NOVAMENTE PUXAR ACORDO ENTRE MERCOSUL E UE

07/07/2011 09:00

 

        A retomada das negociações para assinatura de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - e a União Europeia mantém o nível de dificuldade das outras tentativas, apontam os analistas consultados pelo DCI.

        De acordo com o coordenador do curso de Comércio Internacional da Anhembi Morumbi, José Meireles de Sousa, o Mercosul está atrás, comercialmente, dos demais países da América do Sul, como Colômbia e Chile que já detém acordos com países europeus e com isso tem vantagens para comercialização de produtos de diversos setores.

        "As negociações se prolongam há mais de 10 anos, dentro deste processo tem sido muito difícil de chegar a um acordo, que vai muito além dos problemas tarifários ou do setor agrícola. Hoje o Mercosul de algum jeito tem que fazer um acordo, pois os países como México, Chile e Peru já têm acordos com a União Europeia, o que criou um desequilíbrio na América do Sul. É necessário que o Mercosul fortaleça sua posição por meio de um acordo deste porte", argumenta Meireles.

        Para o analista político, professor de Relações Internacionais do Ibmec-DF, Creomar Lima Carvalho de Souza, a grande questão hoje é a dificuldade econômica dos países da União Europeia e os subsídios agrícolas brasileiros que podem prejudicar ainda mais o comércio interno da Europa, com a perda da competitividade interna europeia.

        "A grande questão que se coloca são os subsídios agrícolas, e a questão da UE passando por momentos difíceis, como no caso com a Grécia. O panorama desenhado hoje é que a zona do euro está sobre muita pressão, pois uma parte considerável dos países passa por uma economia difícil, os bilhões de ajuda já fornecidos não serão suficientes no médio prazo e o bloco europeu necessitará de outro pacote de ajuda. Assim, é um momento extremamente difícil de se concretizar um acordo, contudo, a política tem muito de imponderável e o acordo pode vir a acontecer. Analisando racionalmente, até o presente momento, não há uma condição de ocorrer acordo, a menos que haja uma lista de exceções muito extensa, o que não seria desejável para nenhum dos envolvidos", pondera.

    Teve início, em Bruxelas, ontem, a sexta rodada de negociações para alcançar um acordo de associação entre os países da União Europeia (UE) e do Mercosul, para a assinatura do tratado de livre-comércio (TLC).

Fontes ligadas à Comissão Europeia apontaram que não existe nenhum plano ou proposta sobre o possível acordo, apesar de a UE e o Mercosul terem retomado as negociações que estavam paradas desde 2004. "Agora, cada bloco avalia a situação econômica interna e os efeitos que o acordo poderia ter sobre suas finanças."

        "Ao mesmo tempo, o Brasil está prestes a ficar na posição desfavorável frente a um de seus principais parceiros comerciais. O anúncio da UE de cortar os benefícios tributários do Brasil em três anos, deve forçar o Brasil a uma negociação, para haver um adiamento no prazo, o que pode ser uma medida da europeia frente a situação favorável do agronegócio brasileiro em comparação ao dos europeus, e assim sairia o acordo de livre-comércio", aponta Creomar.

Saída do SGP

        O anúncio da eliminação do Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP) da União Europeia (UE), a partir de 2014, deve afetar 20% das exportações de produtos brasileiros industrializados, mas pior do que isso será o aumento das importações dos demais países desenvolvidos que também foram excluídos do SGP. A afirmação é do CEO do Kaizen Institute Consulting Group - Brasil, Ruy Cortez de Oliveira.

        "Teremos uma perda para os exportadores de commodities, mas quem sofrerá mais serão os produtores de manufaturados. No entanto, a retirada de outros países, inclusive a China, tende a agravar ainda mais o quadro brasileiro, pois estes também vão tentar não perder o mercado europeu e ao mesmo tempo vão procurar outros mercados para colocar suas mercadorias, e o Brasil hoje está comprando cada vez mais, ou seja, poderá ter um impacto maior do que somente perder espaço, ele vai aumentar suas importações", frisa.

        Para ele, esses países estão mais flexíveis e mais rápidos do que o Brasil, o que favorecerá uma desindustrialização mais forte do que tem acontecido atualmente. Na opinião de Meireles o Brasil precisa se preocupar mais com a corrente comercial do que somente com as exportações. Estas, no seu ponto de vista "não terão um rombo enorme, e se o Brasil começar a fazer uma reestruturação e elevar sua indústria poderá não perder mercado nenhum, inclusive tende a ganhar."

        Hoje 12% das compras da União Europeia são provenientes do Brasil, e o setor que mais irá perder com isto é o automotivo.

Carvalho de Souza afirma que a ausência da lista de exceções positivas será uma problemática, contudo, " isso não quer dizer que necessariamente será de todo ruim, pois o setor industrial, principalmente, irá se adequar para não perder mercado, e poderá ganhar outros."


 

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

 

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